quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Chávez, Platão e a utópica democracia socialista

"Proponho ao povo soberano modificar da seguinte forma o artigo 230: (...) Período presidencial de sete anos para o cargo de presidente ou presidenta da República, podendo ser reeleito de imediato para um novo período.” Assim Hugo Chávez pretende fazer crer que cabe ao povo instalar os meios legais para que ele possa dominar indefinidamente a Venezuela.

O mais alarmante no caso de Chávez é que ele tem a seu lado uma boa parcela da classe estudantil venezuelana, que o vê como o revolucionário que irá libertar a Venezuela da tirania capitalista. Para isso, já anunciou que vai expulsar o FMI do país.

Chávez dá ares democráticos à sua intenção absolutista. Diz que pretende a realização de uma revolução socialista, pautada pela vontade da maioria, do "povo soberano". Bonito. Com seu projeto de unipartidarismo, vai facilitar bastante o processo democrático. Mussolini, embora tenha sido da direita, aprovaria a postura do caudilho venezuelano.

A utopia socialista de Chávez remete à Platão. Em sua eterna obra "A República", analisando a evolução dos sistemas de governo, faz entender que a tendência da democracia é se transformar em uma tirania. No autêntico Estado democrático, a vontade da maioria norteia o Estado, o que torna a existência desse Estado uma utopia tão intangível quanto demonstrou ser a socialista. Isso porque a maioria, invariavelmente, é excluída do processo político. O socialismo democrático de Chávez é utopia ao quadrado. E tem gente por lá engolindo essa.

No Brasil temos um espelho disso. Um governo de um partido historicamente vermelho, que colheu a massa apolítica com benefícios que se não prestam a outro fim senão mantê-la na condição de dependência assistencial. E de bons eleitores. (Pra quê voto de cabresto?) Mas para quem não tinha pão, tê-lo significa muito. E isso, dentro do sistema democrático brasileiro, é um meio eficaz de manutenção do poder. Só falta a alteração constitucional.

Mas o estilo de Lula é outro. Governando em favor de poucos, distraindo a massa e marginalizando a classe média, prega uma sociedade democrática e igualitária. Mas na prática o abismo entre as classes persiste. O país não cresce. Só crescem os escândalos, dos quais ele é sempre o último a saber.

Luís XVI também marginalizou toda uma classe. Deu no que deu. Mas isso foi na França Iluminada. O pescoço de Lula, por aqui, está seguro. No Brasil, cai um avião, prendem o dono do "hotel"; e o Renan continua livre, contando suas anedotas no Congresso, enquanto a classe média reclama, inerte, dizendo-se cansada. É a ditadura da impunidade.

sábado, 18 de agosto de 2007

Valores em crise

Semana passada visitei minha mãe. Depois daquela coisa de reencontro quinzenal, "como está meu filhinho" etc e tal, começamos a conversar sobre assuntos diversos, fatos cotidianos ocorridos nas últimas semanas... e eis que ela me conta uma história que retrata um fenômeno social no mínimo peculiar.

Disse-me minha mãe que uma cliente sua, à qual atendera durante a semana, lhe contou que seu filho, de cinco anos, tinha começado a freqüentar uma psicóloga. O problema com o menino é que ele é bonzinho demais.

Como assim? A mulher contou que seu filho, com freqüência, tem surtos de bondade e estava começando a passar por maus bocados por conta disso. Outras crianças de sua idade, aproveitando-se do excesso de generosidade do "problemático" garoto, acabavam por levar embora seus brinquedos, seu lanche, enfim, se apossavam de coisas do garoto ou, em outros casos, aproveitavam-se de situações, seja levando seu mérito por atividades na escola, em brincadeiras etc. Ou seja, a "criança-problema", já aos cinco anos, começava a ser engolida por seus "adversários" na competitiva corrida em que se transformou a vida moderna.

Assim, a solução mais indicada e adotada pela mãe foi contratar os serviços de uma terapêuta para condicionar seu filho a pensar primeiro em si próprio.

Não estou querendo pregar aqui princípios altruístas supremos, espirituais, puritanos, sagrados, bla bla bla.

A questão que me veio à mente quando ouvi essa história foi a precocidade com que o ser humano precisa aprender a sobreviver, a competir, dentro de uma sociedade que se diz, e é, complexa, evoluída, científica, civilizada. Principalmente "civilizada".

A questão da luta pela sobrevivência e o instinto que nos leva a procurá-la é de natureza biológica e, nesse aspecto, a ciência tem procurado demonstrar que não somos muito diferentes de outros seres vivos, principalmente do reino animal. Mas nesse caso específico, trata-se de inibir, numa criança, um impulso, também natural, pois manifestado por uma criança ainda não socialmente formada, de generosidade e desapego, que me parece ser um tipo de instinto, esse sim, que caracteriza-nos de maneira ímpar e nos diferencia de praticamente todo os demais grupos animais que vivem em sociedades (exemplos semelhantes, talvez só entre primatas).

Ao inibir os "instintos éticos" de uma criança, corre-se o risco de se dimiuir seu potencial de enxergar o próximo como um igual, que merece e deve obter da vida em sociedade as mesmas vantagens que ela possui, se se pretende que essa sociedade seja igualitária e justa, e de reduzi-la a um animal puramente biológico, que tem para si os instintos mais primitivos como primordiais.

Não pretendo, aqui, questionar a qualidade ou a necessidade da existência desse tipo de tratamento. Considero a psicologia uma ciência das mais ricas e importantes que o homem desenvolveu e tem, constantemente, aprimorado.

Apenas me pareceu um pouco extremo esse caso. Penso que, no mínimo, deve despertar a atenção geral para o fato de que uma grande reestruturação educacional deve ser implantada, não apenas curricular, nos moldes como a temos (e mal a temos) hoje, mas uma educação mais dinâmica, universal, que implante no homem, desde muito cedo, a ética, assim como princípios e valores morais e sociais que possam permitir à nossa sociedade uma contínua e eficaz evolução.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Desinformação

A cada dia parece ficar mais clara a imprudência com que a mídia veicula notícias no Brasil. A manipulação da informação já não é novidade no país, mas o que está acontecendo hoje ultrapassou os limites do bom senso. A disputa pelo "furo" é a principal prioridade do noticiário popular brasileiro. Nada mais é respeitado; o que importa é a conquista da audiência por meio de um sensacionalismo barato e vulgar. Os noticiários despejam um balde cheio de informações sobre o ouvido do povo sem o menor compromisso com a credibilidade e a qualidade do conteúdo informado.

No judiciário pode-se ver o crescente número de ações de indenização por difamação, movidas por pessoas que se sentem prejudicadas ao terem seus nomes ou suas imagens veiculadas arbitrariamente por jornalistas nos mais variados meios de comunicação.

Isso sem se falar na cobertura de eventos ao vivo, na qual o espectador mais atento facilmente observa inúmeras contradições e falhas na transmissão das informações. A intenção da grande imprensa parece ter deixado de ser informar o cidadão há muito tempo; parece estar mais perto de querer confundi-lo e desinformá-lo.

A liberdade de imprensa não pode ultrapassar o direito do espectador ou leitor de ter acesso a uma informação fidedigna, confiável e justa. É de interesse público extremo que haja ética jornalística em todos os setores da imprensa, pois de outra forma ela não atingirá seu maior objetivo, que é o de manter o brasileiro informado de forma tal que possa elaborar seu pensamento crítico e, somente desta forma, por meio de uma opinião sólida, seja capaz de exercer plenamente a cidadania e participar efetivamente do processo democrático.